Seis
horas da manhã de segunda‐feira,
Natali acorda ao som do despertador do celular. Sente vontade de colocar no modo soneca para dormir
mais 10 minutos, se vira para um lado, se vira para o outro e pula da cama, dá
um beijo em sua filha de cinco anos e fala baixinho no ouvido dela: “ Ana, hora
de acordar”. Então corre contra o tempo, prepara o café da manhã, separa um
lanche para Ana, coloca na mochila. Começa a vestir a menina. Coloca uma calça jeans,
uma camiseta preta e
um casaco qualquer, a bolsa pendurada no ombro, em uma das mãos a mochila
de sua filha e na outra a chave do
carro, a filha no colo.
Já são 7 da manhã, as duas estão no carro rumo
a creche. Em aproximadamente uma hora
Ana já estará na creche.
Natali bate o ponto no condomínio
onde trabalha. Nada de diferente o dia
inteiro: varrer, lavar corredores, arrumar a dispensa com produtos de
limpeza, colocar todos os panos de molho
no alvejante, esfregar, torcer e colocar na corda.
As
dezessete horas em ponto Natali esta na frente da creche. Cansada com um
cigarro na mão, e programando em sua
mente o que faria ao chegar em casa. Roupas para lavar. Banho na Ana. Limpar
a cozinha, que
no domingo anterior
que era o
dia, o qual faria
a limpeza, estava cansada para fazer.
Pronto, Ana veio correndo na direção
de Natali, entraram no carro, Natali abriu as janelas da frente do carro, deu a
partida e rumo a casa. Quando estavam no meio do trajeto acendeu um cigarro e
continuou conversando com Ana de como tinha sido a aula. O que ela aprendeu de
novo? Se tinha tema? O trânsito começou a ficar um pouco lento (horário de
saída de escola, final da tarde), estava na fila do meio, parou no sinal
vermelho quando percebeu que um carro parou ao seu lado, na esquerda, olhou. O
vidro do carro ao lado abriu e um homem começou a berrar desesperado, furioso:
“PUTA, VAGABUNDA, VADIA, VOCÊ TEM QUE MORRER!” Natali sem reação, não estava entendendo nada. Abriu
o sinal. Andou um pouco, mas logo o trânsito
fez ela parar. O carro
parou ao lado
novamente, abriu o
vidro e continuou: “ VOCÊ
TEM QUE MORRER, PORQUE
TEVE FILHO ?
VADIA, MORRE DE UMA
VEZ, QUER MATAR SUA
FILHA É? PUUTTTAAA...” Só então Natali entendeu o
porquê que ele a agredia.E assim continuou, ela pegou o celular, pensou em
filmar, mas ficou com medo. Se ela filmasse
era capaz do
homem descer e
a agredir, Ana
começou a berrar,
“CHAMA A POLÍCIA
MÃE, CHAMA...”, Natali totalmente
muda sem conseguir fazer nada e, Ana continuou “ LOUCO, PARA DE XINGAR MINHA MÃE! “, liga para a polícia
mãe, liga !!!
O trânsito parecia cada vez mais
lento. Natali diminuía cada vez mais a velocidade, para então não parar ao lado dele, até que o
trânsito andou e ela o perdeu de vista. Foi para casa tremendo.
Ana,-
perguntou:
‐ Mãe, porque aquele homem
estava te xingando? ‐ Mãe,
você conhece ele?
Natali
pensou um pouco na resposta e falou:
‐ Filha ele me xingou porque
SOU MULHER, tenho certeza que ele nunca faria isto se fosse um homem no carro,
ou se eu estivesse acompanhada por um homem.
‐ Mãe, mas ele te xingou porque
você estava fumando, né?
LIA FIGAS
Sensacional. Um texto que merece uma bela reflexão....
ResponderExcluirObrigada pela leitura, vamos refletir sobre o assunto...
ExcluirUau!!!
ResponderExcluirA verdade nua e crua, arrasou!!!!
Amei o texto. Atual e deixa algumas reflexões importantes. Machismo, agressividade no trânsito, o fato de ficarmos caladas por medo e tantos questionamentos que veem com o tema. Parabéns Lia! Uma baita escolha de tema.
ResponderExcluirÓtimo texto para refletir!!!
ResponderExcluirQue tempos de violência temos vivido.
ResponderExcluirÉ triste demais pensar que fatos como esse acontecem todos os dias... O simples fato de sermos mulheres nos coloca em risco, nessa sociedade patriarcal e machista...
ResponderExcluirMachismo, autoritarismo, o se achar superior as mulheres, ainda é algo enraizado em grande parte dos homens, e nós mulheres que estamos nessa linha de frente, sabemos exatamente o quão dificil é ser mulher, esse exemplo que colocaste deve inspirar muitas pessoas para no minimo refletir sobre isso. Triste, lamentavel, mas real.
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